Ruptura do tendão do bíceps no cotovelo (bíceps distal)
O bíceps é o músculo famoso por formar o muque no braço.
Com duas origens e uma inserção, ele é reponsável por ajudar o cotovelo na flexão (função secundária) e na supinação (colocar a palma da mão para cima) que é sua função primária. (imagem 1)

97% das rupturas do bíceps são proximais, no nível do ombro, atingindo apenas uma de suas origens, conhecida como cabeça longa.
Essas rupturas, apesar de mais comuns, causam pouca perda de força e quase nenhuma limitação da função do paciente. Alguns casos apresentam uma deformidade conhecida como sinal do popeye (foto abaixo), que é o aumento do volume do biceps mais próximo do cotovelo. Como se ele tivesse caído. Essas rupturas proximais do bíceps são tratadas de forma conservadora (sem cirurgia), salvo em atletas ou desconforto estético.

As ruptura s distais (no cotovelo) são 3% de todas rupturas do bíceps. Elas ocorrem, geralmente, com a extensão do cotovelo, durante levantamento de peso ou com uma extensão abrupta do cotovelo com a mão virada pra cima (supinação).
Por que rompemos o bíceps?
No cotovelo, o tendão do bíceps se insere no osso do rádio. Em uma saliência nomeada tuberosidade biciptal do rádio.

A ruptura do tendão do bíceps nessa região ocorre em média em 2 pessoas a cada 100.000 por ano. Ela é causada por uma região de menor circulação de sangue na ponta do tendão (foto abaixo) e por ele ficar mais apertado no movimento com a mão para cima (supinação).

Fatores de risco
O tabagismo aumenta a chance da ruptura do bíceps distal em 7,5 vezes.
O uso abusivo de esteróides e obesidade são fatorese de risco também frequentes nas rupturas do bíceps.

95% dos pacientes com ruptura do bíceps distal são homens e a média de idade dos pacientes é 46,3 anos.
Avaliação do ortopedista
O paciente pode referir que ouviu um estalo ou a sensação de um tecido rasgando.
No consultório, utilizamos principalmente o sinal do gancho (foto abaixo) e o sinal da pronação passiva para confirmação do diagnóstico de ruptura do bíceps distal.

Exames de imagem
Exames de imagem podem ser solicitados para confirmação a ruptura do bíceps distal.
O ultrassom pode ser solicitado, mas o melhor exame é a ressonância magnética (foto abaixo).

A ressonância nos dá com mais precisão a qualidade do tendão rompido, sua retração e define melhor outras alterações que podemos encotrar associadas a ruptura do bíceps distal como bursite e aumento de líquido.
Tratamento das rupturas do bíceps
As lesões parciais que envolvem menos de 50% da espessura do bíceps são tratadas sem cirurgia por até 6 meses. Em falha do tratamento sem cirurgia, ou em lesões parciais maiores que 50%, é indicado o tratamento cirúrgico.
As lesões completas são tratadas sem cirurgia apenas se o paciente tem baixa demanda, restrição de movimento ou doenças que contraindicam o procedimento. Nesses casos, 7 a 14 dias de tipóia seguidos de uma reabilitação são recomendados. O tratamento não cirúrgico da ruptura do bíceps distal apresentam deformidade cosmética, déficit de força cãimbras.
A reinserção cirúrgica do bíceps distal pode ser realizada de diversas formas: com uma via ou duas, com cortes longitudinais ou transversais, com âncoras, parafusosos reabsorvíveis ou materiais específicos chamados endobottons.
Eu, particularmente, utilizo duas âncoras ou endobotton específico por uma via anterior transversa no antebraço. O tendão é reparado com fios de alta resistência e reinserido em sua inserção prévia.

Após a cirurgia…
Casos agudos (até 3 semanas da data da lesão) ficarão 2 semanas com tipóia e iniciarão processo de reabilitação após isso.
Fases da reabilitação
| Fase 1 | 0 a 6 semanas – ganho de movimento do cotovelo |
| Fase 2 | 6 a 12 semanas – fortalecimento do tríceps/ alongamento dos músculos do punho |
| Fase 3 | 12 a 16 semanas – isometria do bíceps , fortalecimento do ombro |
| Fase 4 | >16 semanas – progressão do fortalecimento + início de gestos esportivos específicos |
Resultado
A cirurgia de reparo do bíceps distal é um procedimento, geralmente, de sucesso. Pode ocorrer, em alguns casos, a perda de 5 a 10 graus do movimento do cotovelo e até 10% da força. O retorno ao mesmo esporte exercido antes a lesão ocorre em 89% dos pacientes. Porém, pode ser difícil atingir os mesmos níveis de competitividade prévios a ruptura.
Rerupturas são raras.
Fontes:
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Dr. Danilo Canesin Dal Molin
Ortopedia e Cirurgia do Ombro e Cotovelo
CRM 24619 PR | RQE 1429